Novas técnicas prometem reduzir a temida queimação no estômago
Antiácidos e remédios como omeprazol e pantoprazol, ou inibidores da bomba de prótons, são velhos conhecidos de quem sofre com a doença do refluxo. A chamada “queimação” atinge cerca de 10% a 20% da população brasileira e novos tratamentos têm sido desenvolvidos para melhorar os sintomas, que nem sempre são controlados apenas com os remédios ou cirurgia. A reversão da doença ainda é pouco provável, mas a redução dos danos ao esôfago, laringe, faringe e até no pulmão pode ser alcançada logo.
No ano passado, a Associação Norte-Americana para Endoscopia Gastrointestinal (ASGE) divulgou novas diretrizes sobre o uso de técnicas endoscópicas para o tratamento da doença. Dois procedimentos, ainda não realizados no Brasil, tiveram bons resultados.
O primeiro, conhecido por Stretta, dura menos de uma hora e pode ser feito em ambulatório. De acordo com o documento da ASGE, a técnica poderia aliviar os sintomas da doença do refluxo durante cerca de 10 anos, para a maioria dos pacientes. “O procedimento é composto por um módulo de radiofrequência, fonte geradora de energia e um cateter. O objetivo é criar lesões térmicas no músculo do esfíncter esofágico inferior, responsável pelo relaxamento do esôfago que permite o refluxo. Com o calor, o músculo voltaria a funcionar de forma adequada, reduzindo os sintomas da doença”, explica José Caetano Marchesini, médico cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Marcelino Champagnat.
O segundo procedimento é o TIF ou fundoplicadura transoral sem incisão. A solução cirúrgica corrige o defeito na válvula gastroesofágica, aquela que separa o esôfago do estômago e que permite o refluxo em alguns casos. Cerca de 67% dos pacientes que fizeram uso da técnica reduziram ou descontinuaram o uso dos remédios inibidores da bomba de prótons, como omeprazol. “O procedimento é mais efetivo que altas doses de terapia com inibidores da bomba de prótons na eliminação de regurgitação ou sintomas extra-esofágicos da doença do refluxo”, segundo o documento divulgado pela Associação Norte-americana.
As técnicas são voltadas apenas aos pacientes adultos, mulheres não gestantes, que não respondem bem a medicamentos, pacientes com esfíncter do esôfago hipotenso, ou que se recusam a permanecer em terapia farmacológica.
Para o futuro
Embora tenham bons resultados e estejam bem documentados em outros países, como nos Estados Unidos, a experiência global ainda é muito limitada para que esses tratamentos possam ser considerados “padrão”. Tanto o Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico quanto o Colégio Americano de Gastroenterologia ainda não incluíram essas técnicas como diretrizes, segundo Joaquim Prado Moraes Filho, professor do departamento de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva.
“Ao que tudo indica, o procedimento Stretta é seguro e, quando bem indicado, eficaz. O procedimento é pouco invasivo e pode vir a se tornar uma forma importante de tratamento. O TIF, por outro lado, necessita de mais estudos para endossá-lo”, explica Prado Moraes Filho.
Medicamento promove bem-estar, mas pode “viciar”
As novas técnicas podem contribuir para reduzir um “sintoma” muito comum entre os pacientes com a doença do refluxo gastroesofágico. O consumo exagerado dos medicamentos que aliviam os sintomas, especialmente os inibidores da bomba de prótons, e suas consequências para o tratamento da doença.
Até mesmo antes da indicação médica, muitos pacientes consomem de forma crônica remédios como omeprazol e pantoprazol que ajudam a reduzir o pH (medida físico-química que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma solução aquosa) ácido do estômago. Esses medicamentos, assim, promovem um bem-estar para a pessoa.
No entanto, a célula gástrica continua produzindo, acumulando, hipertrofiando, embora não possa liberar, e quando o remédio é descontinuado o ácido é liberado. “Muitos pacientes não aguentam, embora seja um sintoma transitório. Em uma semana até 15 dias, a produção volta ao normal, se a pessoa fizer mudanças de hábitos de vida e de alimentação”, diz Julio César Pisani, médico gastroenterologista e professor da disciplina de gastroenterologia da UFPR.
Endoscopia
Até então, a endoscopia era um exame solicitado pelo médico gastroenterologista apenas para avaliar os danos do refluxo na parede do esôfago e outros órgãos. O diagnóstico da doença do refluxo, ao contrário do que muitos pacientes acreditam, é feito a partir dos sintomas relatados, e não pela endoscopia.
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